segunda-feira, 27 de março de 2017

A luta de José Louzeiro

Curta-metragem “José Louzeiro: Depois da Luta” contará a trajetória do roteirista, escritor e jornalista maranhense José Louzeiro; gravações serão encerradas no fim do mês; obra tem depoimentos de cineastas como Sérgio Rezende, José Joffily e o cineasta chileno Jorge Duran

José Louzeiro com Jorge Duran no SET de filmagem do documentário (Fotos: Paula Monte)
Autor de obras memoráveis como “Pixote- Infância dos Mortos”, “Lúcio Flávio- O passageiro da agonia”, ambas adaptadas para o cinema, o roteirista, escritor e jornalista maranhense José Louzeiro sempre seguiu por trás das câmeras e da máquina de escrever, onde contava diversas histórias policiais, apuradas para os jornais e também esboçava roteiros para o cinema. Nascido em São Luís, cidade onde começou sua carreira jornalística, José Louzeiro é radicado no Rio de Janeiro desde a década de 1950 e como um bom jornalista policial, profissão que desempenhou nos principais jornais do país, a sua missão sempre foi contar histórias, mas agora a sua trajetória será tema do curta-metragem “José Louzeiro: Depois da Luta”, ainda em fase de gravações. A previsão é que o filme seja finalizado no segundo semestre deste ano.
Aprovado no II Edital do Audiovisual do Maranhão, concebido por meio de uma parceria entre Governo do Estado e Agência Nacional de Cinema (Ancine), o filme tem direção da cineasta Maria Thereza Soares, pesquisa e roteiro da jornalista Bruna Castelo Branco, direção de fotografia assinada por Paula Monte e Paulo Malheiros (fotografia), design de som de Paulo Senise, que também assina a técnica de som ao lado de Marcos Belfort, produção de set de Fernanda Oliveira e Maria Thereza Soares, edição de Fernando Costa e assistência de produção de Cláudia Marreiros. Thiago Barbosa dos Santos participa como assistente de direção.
A obra conta a história do escritor, principalmente, a sua participação no cinema. Com gravações iniciadas em fevereiro no Rio de Janeiro e com previsão de lançamento para o segundo semestre deste ano, o filme contará com depoimentos do próprio José Louzeiro, além da participação de escritores e cineastas.
Presidente da AML, Benedito Buzar, colaborou com o filme baseada na obra de José Louzeiro 
No Rio de Janeiro, as filmagens duraram cerca de 10 dias e foram rodadas na casa do escritor e também na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Além de muitas horas de gravações com o próprio personagem do filme, o filme conta com depoimentos da agente literária Ednalva e de cineastas como Sérgio Rezende, José Joffily e Jorge Duran. Nas entrevistas, eles contaram suas experiências com Louzeiro enquanto roteirista de filmes importantes, a exemplo de “Lúcio Flávio- o passageiro da agonia”, “Pixote- a lei do mais fraco”, ambos dirigido pelo cineasta argentino Hector Babenco, “O Homem da Capa Preta”, com direção de Sérgio Rezende e produção de Mariza Leão, “Quem Matou Pixote?”, com direção de José Joffily, entre outros.
O cineasta José Joffily, diretor do filme “Quem Matou Pixote? ”, que narra a polêmica história do ator Fernando da Silva Ramos, protagonista do filme “Pixote- A lei do mais fraco”, assassinado pela polícia em 1987 conta que o faro jornalístico de Louzeiro definiu a trama que tem inspiração no livro de Cida Venâncio, viúva de Fernando. “ Louzeiro foi importantíssimo durante o processo todo, por causa desse viés jornalístico dele, sempre colocando a imaginação dele sobre os fatos”, destaca.
Em São Luís, as gravações seguem até o fim de março com escritores e amigos do homenageado, entre as locações escolhidas será a sede da Academia Maranhense de Letras, entidade de escritores, do qual Louzeiro faz parte desde 1987.
Perfil
Nascido em São Luís, José Louzeiro morou até a adolescência morando no antigo bairro Camboa do Mato, sua relação com o jornalismo começou como revisor aprendiz de O Imparcial, para em seguida atuar como repórter policial. Ao mudar-se para o Rio de Janeiro, em 1954, teve atuação em diversos jornais como O Jornal, da Cadeia dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Posteriormente, passou pelas redações da Revista da Semana, Manchete, Diário Carioca, Última Hora, Correio da Manhã (no Rio) e, em São Paulo, teve passagens pela Folha de São Paulo e o Diário do Grande ABC. Foi repórter de polícia durante mais de 20 anos.
Autor de mais de 40 livros, nos segmentos infanto-juvenil, biografias e romance-reportagens, gênero do qual é pioneiro no Brasil, aos 84 anos, José Louzeiro ainda colabora esporadicamente com artigos em jornais e sonha com alguns livros ainda transformados em filmes como “Aracelli, meu amor”, sobre o caso da menina Aracelli Crespo, assassinada, aos 8 anos de idade, em Vitória (ES), no dia 18 de maio de 1973. A morte da menina foi contada no romance-reportagem, censurado no dia do lançamento, por falar de forma clara que os culpados pela morte eram pessoas da alta sociedade da capital do Espírito Santo. Hoje a data da morte da garota Aracelli é lembrada como o Dia Nacional de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, graças também ao trabalho incansável de Louzeiro em denunciar o crime.
Além de Aracelli, a obra de José Louzeiro como um todo tem como característica a denúncia social e também é rica em personagens marginalizados socialmente. É o caso do grupo de meninos em situação de risco social do livro “Pixote- Infância dos Mortos”, que foi transformada em filme em 1981, fazendo uma contundente denúncia dos maus tratos que crianças e adolescentes.
Sobre ser tema de um documentário, embora tenha dado sugestões de personagens, ele encara com simplicidade a sua história ter sido transformada em filme. “Fico envaidecido e muito honrado com o convite, pois a minha vida sempre foi contar sobre a vida dos pobres e eu sou pobre também. Eu sou um pedreiro das palavras”.
Pesquisa
A diretora do filme, Thereza Soares, fez pesquisa 
A pesquisa começou em 2013, a partir do interesse da jornalista Bruna Castelo Branco, que também assina o roteiro do filme. A ideia surgiu após fazer uma entrevista com ele sobre o lançamento do livro “Lições de Amor” (2012), sobre a educadora maranhense Maria Freitas.
“Ele é uma fonte de boas histórias, sua experiência com o cinema, com o jornalismo policial e também com a literatura precisa ser amplamente divulgada. No início, eu não sabia exatamente como contar essa história, aí surgiu o Edital do Audiovisual do Maranhão e aí pensei na Maria Thereza Soares que é cineasta para dirigir o filme”, lembrou.
Para Maria Thereza Soares, que tem formação em Cinema e Vídeo pela Universidade Federal Fluminense e também foi aluna da escola de cinema École Nationa e Supérieure Louis Lumière (Paris), dirigir um filme sobre José Louzeiro tem um lado afetivo. Em 2001, ela fez o primeiro curso relacionado a cinema. Trata-se de Roteiro para cinema e televisão, ministrado por José Louzeiro.
“A história de Louzeiro é fascinante, e o que mais chama a atenção na sua trajetória é seu lado fortemente humanista. Ele saiu de uma vida pobre em São Luís, sem muitas perspectiva para escrever seu nome na história do cinema brasileiro, de forma bastante expressiva”, analisa.

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