segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Os arquitetos do novo Tratado de Tordesilhas no Maranhão

 Assim que os ventos sopraram do Palácio e veio a público a notícia do novo Tratado de Tordesilhas uma grande onda de indignação bateu no nosso litoral. Tratava-se do acordo político, travado a portas fechadas entre os imperadores do PCdoB e do PDT, que vislumbrava a divisão das terras maranhenses através do uso de tristes artimanhas para demarcar territórios e eliminar os adversários indesejados nas eleições municipais, antes mesmo de iniciado o combate político.
Aos olhos mais experientes era cristalino o desfecho de tamanha prepotência. Muitos fatores foram observados e denunciados como entraves para a concretização dessa engenharia ardilosa. Entretanto, seguindo o ditado que somente as pessoas mais tolas ou arrogantes seguem, que diz que se conselho fosse bom não se dava, se vendia, os imperadores deram vazão ao descalabro, chegando mesmo a admitir publicamente o Tratado sob o disfarce da escolha do ”melhor para o Maranhão”,
conforme anúncio do senhor Governador. Seguiram os poderosos na missão de comunicar aos territórios o que podia e o que não podia ser feito, quem eram os generais por eles legitimados para o domínio dessas regiões, e o que esperar diante dos resultados, numa ameaça velada aos atos de “insubordinação”.
Arriscaram-se a pagar o preço, sem imaginar o valor da conta, que veio alta. A onda virou ressaca, atingindo boa parte do litoral, adentrando com força o interior e alcançando de forma crucial as terras pretendidas.
Foi assim que nessas eleições municipais nós presenciamos uma derrota retumbante do grupo político que hoje se encontra à frente do comando do Palácio. Os territórios, estrategicamente negociados para a perpetuação dessa nova leva de equivocados, como Imperatriz, Caxias, Bacabal, Barreirinhas e Pinheiro, mostraram que são livres e que não se submetem ao papel de moeda de troca. É um resultado expressivo que precisa ser
interpretado a luz da história política do Maranhão. É a reação a uma gestão centralizadora e autoritária, repudiada até pelos seus, que em nada retribui a confiança que nela foi depositada na esperança de uma mudança, do fim dessa política imperial. Acima de tudo, é uma demonstração de que por estas terras também sopram os ventos da democracia, ainda frágeis, mas a despeito dos “poderosos” de plantão.
Nesse diapasão resta evidente que os monarcas ignoraram a construção histórica das conjunturas política, social e cultural que permitiram sua ascensão ao Governo do Estado, repetiram e intensificaram as práticas políticas e governamentais discriminatórias, eleitoreiras e decadentes contra as quais a luta pela liberdade e pela democracia foi travada, e menosprezaram as forças locais, bem como a capacidade de reflexão dos cidadãos e cidadãs comuns. Nada aprenderam com o último estadista que a política estadual nos presenteou: Dr. Jackson Lago.
Para complementar o quadro, finalizamos o segundo turno da sede da capitania, último território do Tratado a ter seu destino definido, onde a reeleição do prefeito exigiu uma mobilização gigantesca de estruturas financeiras, como nunca visto antes na história da cidade, e a presença massiva da máquina pública, ainda que em benefício da população. O que seus aliados insistiram em chamar de fenômeno não corresponde a realidade, o sentimento de inconformismo com o velho jeito de se fazer política fez-se presente durante toda a disputa, expresso num brado retumbante de mudança, e que resultou na convergência das forças de oposição ao regime monárquico dos cenários municipais e estadual em torno do Davi Braide que a todos surpreendeu e que mostra a verdadeira rebeldia ludovicense. Uma lição de que os tempos são outros, ainda que reste a triste realidade do subjugo do poder econômico.
Com certeza foi um breve suspiro de alívio no Palácio que, entretanto, não é capaz
de modificar o cenário político que se desenha para o próximo combate. As terras maranhenses já deram há tempos os sinais de que aqui o desejo não é só do novo, o desejo é por uma mudança efetiva na vida das pessoas. O que se espera de um governante é a sua liderança pautada na autonomia e no desenvolvimento das realidades locais, e não uma governança que se diz democrática, mas que na prática se sustenta em perseguições e privilégios.
Resta a convicção que o fracasso do Tratado de Tordesilhas é uma grande ressaca moral e ética que nosso Governador terá que amargar juntamente com seus conselheiros iluminados.

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